
Em Memorial
do Convento, o texto narrativo é dividido em três categorias, a
acção, o espaço e o tempo.
Acção
Na acção, o Rei D. JoãoV , Baltasar, Blimunda e Bartolomeu Lourenço protagonizam as diversas acções que se entretecem em Memorial do Convento.
A acção principal é a construção do convento de Mafra. Esta resulta da reinvenção da História pela ficção. Situa-se no inicio do séc. XVIII, encontrado-se enlaçados dados Históricos, como o da promesssa de D. João V de construir um convento em Mafra, e o do sofrimento que nele trabalhou. Percebe-se a situação económica e social do país, os autos de fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola pelo padre Bartolomeu, as críticas ao comportamento do clero, os casamento da infanta Maria Bárbara e do príncipe D. José.
Em paralelo com a acção principal decorre uma acção que envolve Bartolomeu - Sete Sóis - e Blimunda - Sete Luas -. São estas personagens que estabelecem o fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.
A centralidade conferida ás obras do Convento e aos espaços sociais de Lisboa ou de Mafra dão frequentemente lugar a uma intriga de profunda humanidade trágica. As duas acções voluntariamente surgem em fragmentos que se reconstituem por encaixes vários e recriam situaçõs, costumes, tradições, hambientes e problemas.
Espaço
Memorial do Convento
apresenta três tipos de espaço: o espaço físico, o espaço social, o espaço
psicológico. Espaço Físico: São dois os espaços físicos nos quais se desenrola
a acção: Lisboa e Mafra.
Lisboa- Enquanto macroespaço, integra outros espaços Terreiro do Paço Local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa Rossio Este espaço aparece no início da obra como local onde decorre o auto-de-fé S. Sebastião da Pedreira Espaço relacionado com a passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão e com o carácter mítico da máquina voadora
Lisboa- Enquanto macroespaço, integra outros espaços Terreiro do Paço Local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa Rossio Este espaço aparece no início da obra como local onde decorre o auto-de-fé S. Sebastião da Pedreira Espaço relacionado com a passarola do Padre Bartolomeu de Gusmão e com o carácter mítico da máquina voadora
Rossio
– Auto-de-fé Gravura do séc. XVIII
O alto da Vela
foi o local escolhido para a construção do convento. - Nas imediações da obra,
surge a “Ilha da Madeira”, onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores,
chegando, mais tarde, a quarenta mil. Além de Mafra, são referidos os espaços
de Pêro Pinheiro, serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras. Nota : as
referências ao Alentejo apresentam um espaço povoado de mendigos e de
salteadores. Mafra É o segundo macroespaço
Espaço
Social – Lisboa e Mafra O espaço social é construído através do relato de
determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado
grupo social. Destaque:
1-
Procissão da Quaresma – caracterização da cidade de Lisboa; excessos praticados
durante o Entrudo; penitência física; a descrição da procissão; as
manifestações de fé que tocavam a histeria com os penitentes a
autoflagelarem-se.
2-
Autos-de-fé (Rossio) – entre os autos-de-fé e as touradas, o povo revela gosto
sanguinário e emoções fortes; a assistência feminina preocupa-se com os
pormenores fúteis e com os jogos de sedução; a morte dos condenados é motivo de
festa.
3-
Tourada (Terreiro do Paço) – os touros são torturados, o público exulta com o
espectáculo.
4-
Procissão do Corpo de Deus – as procissões caracterizam Lisboa como um espaço
caótico, cujo ritual tem um efeito exorcizante.
5-
O trabalho no Convento – Mafra simboliza o espaço da servidão desumana a que D.
João V sujeitou o seu povo (cerca de 40 mil trabalhadores).
6-A
miséria do Alentejo – este espaço associa-se à fome e à miséria.
Espaço Psicológico O espaço psicológico é constituído
pelo conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens.
Revela-se através dos sonhos e dos pensamentos. Ex.: Sonhos de D. Maria Ana
(com infante D. Francisco); de Baltasar quando andava a lavrar o alto da Vela;
pensamentos do padre Bartolomeu relativamente ao voo da passarola.
Tempo
Tempo
O fluir do tempo ,
mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é
sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens. - tempo da história
(tempo diegético) - tempo do discurso.
Tempo Diegético - Trata-se do tempo histórico em que decorre a acção (1711 a 1730). A acção tem início no ano de 1711 : ”S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze…” Datas: 1711 – promessa de construção do convento. 1716 – bênção da primeira pedra. 1717 – Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa. 1719 – casamentos de D. José e de Maria Bárbara. 1730 – sagração do convento. 1739 – fim da acção, quando Blimunda vê Baltasar a ser queimado.
Tempo do Discurso - Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, através da forma como relata os acontecimentos. Pode ser apresentado de forma linear, e ou com recurso a analepses e prolepses.
Tempo Diegético - Trata-se do tempo histórico em que decorre a acção (1711 a 1730). A acção tem início no ano de 1711 : ”S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze…” Datas: 1711 – promessa de construção do convento. 1716 – bênção da primeira pedra. 1717 – Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa. 1719 – casamentos de D. José e de Maria Bárbara. 1730 – sagração do convento. 1739 – fim da acção, quando Blimunda vê Baltasar a ser queimado.
Tempo do Discurso - Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, através da forma como relata os acontecimentos. Pode ser apresentado de forma linear, e ou com recurso a analepses e prolepses.
Estrutura do Memorial do Convento
Estrutura
A
estrutura de um romance assenta na coexistência de vários conflitos que se
enredam e através do texto manifestam ou desoculam a realidade e os problemas
do ser humano.
Em Memorial,
observa-se uma reinvenção da História, de actos e de comportamentos para
despertar os leitores para situações reais perturbantes que devem ser
analisadas. Pela ficção e com a sua palavra reveladora e denunciadora Sramago
propõe o repensar da História portuguesa à luz das mentalidades actuais e
possibilita a consciencialização sobre a verdade do homem.
A
estrutura do Memorial do convento apresenta duas linhas condutoras da
acção -construção do convento de Mafra e a relação entre Baltasar e Blimunda-
que se entrelaçam com acontecimentos diversos recolhidos na História ou
fantasiados.
A
obra é composta por 25 capítulos
Para além da sua
divisão em capítulos, da obra destacam-se ainda 3 planos:
Plano
da história
-Portugal
no século XVIII
-Reinado
de D. João V
-Construcção
do Convento
-Inquisição,
autos de fé, casamento dos infantes
Plano
da ficção da História
-O narrador molda as personagens históricas, transformando-as
-D. João e D. Ana caricaturados
Plano
do fantástico
-Construcção da Passarola
-Dom de Blimunda
Romance histórico - oferece uma descrição minuciosa da sociedade portuguesa da época. Por outro lado, nesta obra, o ponto de vista do narrador altera o ponto de vista histórico e, como tal, a classificação de Memorial do convento com romance histórico não é consensual.
Romance social - preocupa-se coma realidade social fazendo sobressair o povo oprimido.
Romance de intervenção - visa denunciar a história repressiva portuguesa da 1ªmetade do século XX.
Romance de espaço - traduz não só o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano.
-Dom de Blimunda
Romance histórico - oferece uma descrição minuciosa da sociedade portuguesa da época. Por outro lado, nesta obra, o ponto de vista do narrador altera o ponto de vista histórico e, como tal, a classificação de Memorial do convento com romance histórico não é consensual.
Romance social - preocupa-se coma realidade social fazendo sobressair o povo oprimido.
Romance de intervenção - visa denunciar a história repressiva portuguesa da 1ªmetade do século XX.
Romance de espaço - traduz não só o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano.
Personagens
Rei D. João V
· Rei vaidoso, egocêntrico, megalómano e libertino
· Rico e poderoso - não sabe o que fazer com tanta
riqueza
· Arrogante - a vontade do rei é divina
· Tem " medo de morrer"
· É ridicularizado pelo narrador que recorre à
caricatura e ao tom irónico na sua descrição
Baltazar
· Homem do povo nascido em Mafra
· Não tem a mão esquerda
· Tem a alcunha de Sete Sóis
· Apaixonado por Blimunda
· Sonhador, constrói a Passarola
· Morre queimado num auto-de fé (54 anos)
Blimunda
· Mulher misteriosa, fiel, intuitiva e inabalável no
amor
· Possui o dom da vidência, vê o interior dos corpos
· Tem a alcunha de Sete Luas
· Tem uma sabedoria muito própria, é inteligente
Padre Bartolomeu de Gusmão
· Sonhador, visionário e culto
· Capelão na corte e amigo de D. João V
· Nascido no Brasil
· Possui uma visão muito própria da religião pois:
· Possui um espírito cientifico que o vai afastando da
igreja progressivamente;
· O seu conhecimento e estudos levam-no a interrogar-se
acerca dos dogmas católicos;
· Tem medo da Inquisição pois está consciente de que fez
coisas condenadas pelo Santo Oficio como, a construção da Passarola;
· Morre louco em Toledo;
Domenico Scarlatti
· Músico
italiano, nascido em Nápoles
· Talentoso, culto e sonhador
· Professor de D. Maria Barbara
· Trava amizade com o Padre Bartolomeu na corte do rei
· Tem conhecimento da existência da Passarola e
interessa-se pelo engenho
· A sua música possui um poder curativo e inebriante
O povo
· Populares anónimos, analfabetos e oprimidos
· Trabalhadores humildes
· Sacrificados e sujeitos à exploração dos poderosos
· Elevados a herói pelo narrador
O Narrador
Homodiegético
· Fala
na 1ªpessoa, dialoga com outras personagens
· Ex
: o fidalgo do cortejo do casamento dos príncipes (que explica a João Elvas o
que se vai passando) e Manuel Milho
Heterodiegético
· Está
fora da história que narra
· Fala
na 3ª pessoa
· Descreve,
sentencia, profetiza
Em Memorial do Convento, o
narrador conta a história com apartes e comentários:
· com
uma voz distanciada e impessoal
· com
uma voz intemporal, comentando os acontecimentos do passado à luz do presente
· apresentando
marcas da oralidade
· como
se estivesse dentro e fora das personagens (omnisciente)
Simbologia
D. João V, que
surge na obra como um monarca libertino e vulgar (contrariando a História, que
o consagra como «o Magnânimo») manda construir um monumento que é símbolo da ostentação
régia, da opressão e da vaidade dos poderosos.
Representa o sacrifício dos operários que construíram esse
monumento, a exploração e miséria do povo que nele trabalhou.
Passarola
Traduz a harmonia entre o sonho e a sua
realização. Graças ao sonho, foi possível juntar a ciência, o trabalho
artesanal, a magia e a arte, para fazer a passarola voar.
Representa a liberdade, a alternativa a um espaço de repressão,
intolerância e violência (Inquisição / Despotismo Iluminado).
Blimunda
Com o seu poder de visão, compreende as coisas sobre a vida, a morte, o
pecado e o amor.
O olhar de Blimunda é o olhar da «História» que o narrador
exercita, denunciando a moral duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e
hipocrisia do clero, as injustiças da Inquisição, o terror, o obscurantismo de
uma época, a miséria e as diferenças sociais.
Numero Sete
Sete são as vezes que Blimunda passa em Lisboa, em demanda de Baltasar.
Esse número regula os ciclos da vida e da morte na Terra e pode
ligar-se à ideia de felicidade, de totalidade, deordem moral e
espiritual.
Sol
Associado a Baltasar e ao povo, sugere a ideia de vida, de renovação de
energias (o povo trabalha até à exaustão no convento, Baltasar constrói
uma máquina, mesmo depois de decepado).
Como o Sol, que todos os dias tem de vencer os guardiães da noite (mitologia
antiga), também Baltasar vence as forças obscuras da ignorância e da
intolerância ao voar.
Lua
Símbolo do ritmo biológico da Terra, traduz a força vital que é
representada pelas vontades recolhidas por Blimunda para fazer voar a
passarola.
Associada a Blimunda, lembra o seu mágico poder de «ver às escuras», embora
este esteja condicionado (só vê o interior das pessoas em jejum e quando não há
quarto de lua).
Cobertor
Trazido da Holanda pela rainha, torna-se símbolo da separaçãoque marca
o casamento de conveniência do casal régio. Exprime a frieza do amor, a
ausência do prazer, os desejos insatisfeitos.
Colher
Quando partilhada, é um símbolo da aliança, do compromisso
sagrado que vai unir para sempre as duas personagens populares. Exprime o
amor autêntico, a atracção erótica e apaixonada, a vivência plena do prazer.
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