Manuel Gonçalves Cerejeira (1888-1976), sacerdote e docente
universitário, terminou formação académica em Coimbra em plena República
(1916), da qual era adversário implacável dado o peso que nela tinham, a seu
ver, a Maçonaria e o anticlericalismo. Enveredará, por esse motivo, pela ação
política de contestação ao poder republicano, para o que reanima o Centro
Académico de Democracia Cristã, onde encontra como colaborador Oliveira
Salazar, ao mesmo tempo que, na imprensa católica, defende as suas opiniões
antirrepublicanas. Parte da sua obra historiográfica é igualmente imbuída de um
espírito de cruzada ideológica: contrariando teses positivistas e racionalistas
caras aos republicanos, defende (entre outras) a tese de que a civilização
ocidental tudo deve ao Cristianismo e procura dissociar a Inquisição da
histórica decadência nacional. Instituído o Estado Novo sob a direção do seu
amigo, colega e correligionário António de Oliveira Salazar, o sacerdote, que
entretanto ascende a Cardeal Patriarca de Lisboa (1929) é um dos artífices da longa
aproximação e colaboração entre a Igreja e o Estado, lutando para recuperar o
espaço de manobra perdido pela instituição religiosa durante o período
republicano e para inverter a tendência para a fuga de devoção criada pelo
anticlericalismo militante republicano. Será também Cerejeira o interlocutor
privilegiado entre o Governo de Portugal e a Santa Sé quando esta manifesta
afastamento em relação a teses oficiais portuguesas em política colonial,
particularmente quando o Papa recebe em audiência representantes de movimentos
da guerrilha guineense, angolana e moçambicana.
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