Cidade/
campo
O contraste cidade/campo é um dos temas fundamentais da poesia de Cesário e
revela-nos o seu amor ao rústico e natural, que celebra por oposição a um certo
repúdio da perversidade e dos valores urbanos a que, no entanto, adere.
è A cidade personifica a ausência de amor e, consequentemente, de vida.
Ela surge como uma prisão que desperta no sujeito “um desejo absurdo de
sofrer”. É um foco de infecções, de doença, de MORTE. É um símbolo de opressão,
de injustiça, de industrialização, e surge, por vezes, como ponto de partida
para evocações, divagações
è O campo, por oposição, aparece
associado à vitalidade, à alegria do trabalho produtivo e útil, nunca como
fonte de devaneio sentimental. Aparece ligado à fertilidade, à saúde, à
liberdade, à VIDA. A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, daí surgir o
mito de Anteu, uma vez que a terra é força vital para Cesário. O poeta encontra
a energia perdida quando volta para o campo, anima-o, revitaliza-o, dá-lhe
saúde, tal como Anteu era invencível quando estava em contacto com a mãe-terra.
O campo é, para Cesário, uma realidade concreta, observada tão
rigorosamente e descrita tão minuciosamente como a própria cidade o havia sido:
um campo em que o trabalho e os trabalhadores são parte integrante, um campo
útil onde o poeta se identifica com o povo (Petiz). É no poema Nós que
Cesário revela melhor o seu amor ao campo, elogiando-o por oposição à cidade e
considerando-o “um salutar refúgio”.
A oposição cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a
morte que cria em Cesário uma repulsa à cidade por onde gostava de deambular
mas que acaba por aprisioná-lo.
Critica à
humilhação dos humildes
Cesário
busca a expressão clara, objetiva e concreta;
- As
suas descrições têm pouco de poético – prosaísmo lírico –,
pois procura explorar a notação objetiva e sóbria das graças e dos horrores da
vida da cidade ou a profunda vitalidade da paisagem campestre – características
de um realista.
- A
preocupação com:
· a
beleza e a perfeição da sua poesia (a musicalidade, a harmonia, a escolha
dos sons...);
· o
vocabulário – a expressividade verbal, a adjetivação abundante, rica e
expressiva, a precisão vocabular (chega mesmo a usar termos
técnicos), o colorido da linguagem...;
· os
recursos fónicos – as aliterações, que contribuem para a musicalidade e
para a perfeição formal;
· os
processos estilísticos – abundância de imagens, as metáforas, as
sinestesias...;
· a
regularidade métrica, estrófica e rimática (na métrica, preferência pelo
verso decassilábico e pelo alexandrino; na organização estrófica,
a preferência evidente pela quadra que lhe permitia registar as
observações e saltar com facilidade para outros assuntos).
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