O Sarau destinava-se a ajudar as vítimas das cheias do Ribatejo.
Revela-nos aspetos caricatos da sociedade lisboeta: o gosto pela verborreia
oca; a total falta de sensibilidade estética para apreciar o talento; a lágrima
fácil perante o exagero poético romântico; a superficialidade das conversas.
O primeiro interveniente é Rufino, um orador tido como sublime; a sua
retórica vazia, quase barroca, traduz a sensibilidade literária da época; a sua
bajulação à família real evidencia a idolatria em relação a quem o pode
promover.
Cruges representa o raro talento verdadeiro, incompreendido e alvo de
risos.
O último interveniente é Alencar, após “um intervalo de dez minutos como no
circo”. O poeta declamou “A Democracia”, aliando poesia e política, numa
encenação exuberante e sentimentalista, ultrarromântica, que termina, entre
fortes aplausos, com propostas sociais utópicas de uma República em que o
milionário, sorrindo, abre os braços ao operário.
É neste episódio, aparentemente desligado por completo da intriga
principal, que Ega entra em contacto com o Sr. Guimarães, personagem que se
revela fundamental para o final trágico da intriga.
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