Óde
Triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Análise
O título é bastante sugestivo do conteúdo e significado
da ode. Assim, o nome/substantivo «ode», de origem grega, remete para o cântico
laudatório de uma pessoa, instituição, ou acontecimento. No caso deste poema,
significará um canto de exaltação da civilização moderna industrial. Por sua
vez, o adjetivo «triunfal» vem hiperbolizar o significado do nome («ode»),
conferindo ao texto uma sugestão de força e exagero. No conjunto, o título
traduz uma sensação de triunfo e de monumentalidade, visto que sugere algo de
grandioso, quer a nível do conteúdo, quer da forma, o que está em conformidade
com o tema da composição poética: o canto de exaltação da modernidade, do progresso,
da técnica e dos seus excessos.
Opiário
É antes do ópio que a minha alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.
Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.
É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.
Analise
A nostalgia do
além, sugerida pelas referências ao Oriente, traduzem a saturação ou a
incapacidade de integração na civilização ocidental e remetem o sujeito poético
para um estado de divagação alienante e um pessimismo desistente.
A evasão através do
sonho, da evocação de espaços irreais ou inexistentes, é alternada pela procura
de sensações novas e extremas que só a embriaguez do ópio pode proporcionar. No
entanto, a falta de vontade e de energia interior parecem anular qualquer
solução que este pudesse representar.
O tédio, o cansaço,
a apatia, a descrença e a morbidez do sujeito poético traduzem a sua incapacidade
de viver a vida, a inércia perante uma existência anuladora e monótona.
A náusea e a
demissão da vida, que marcam a poesia decadentista, representam também o
assumir de um fracasso pessoal.
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