sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ricardo Reis

Prefiro rosas meu amor à pátria

Prefiro rosas, meu amor, à pátria, 
E antes magnólias amo 
Que a glória e a virtude

Logo que a vida me não canse, deixo 
Que a vida por mim passe 
Logo que eu fique o mesmo

Que importa àquele a quem já nada importa 
Que um perca e outro vença, 
Se a aurora raia sempre

Se cada ano com a primavera 
As folhas aparecem 
E com o Outono cessam

E o resto, as outras coisas que os humanos 
Acrescentam à vida, 
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença 
E a confiança mole 
Na hora fugitiva.

Analise

Neste poema podemos encontrar as linhas da filosofia de vida:
-A recusa do esforço(da pratica, /da gloria e da/ virtude)
-A demissão da vida e ataraxia/(Procura de felicidade com tranquilidade)
-A indiferença
-A aceitação de precariedade da vida.
O próprio ritmo da natureza “ensina” o sujeito a “olhar” a vida como simples / espectador.

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio*,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.


Analise

Pode-se perceber que na 1ª e 2ª estrofes, há um desejo epicurista de fruir o momento presente. Nota-se, também, a aceitação das leis do destino.

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