domingo, 26 de dezembro de 2010

Os maias

Acão principal e Acão secundária da obra “os Maias”
A Acão principal d' Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragédia clássica - peripécia, reconhecimento e catástrofe. A peripécia verificou-se com o encontro casual de Maria Eduarda com Guimarães; com as revelações casuais do Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; e com as revelações a Carlos e Afonso da Maia também, sobre a identidade de Maria Eduarda. O reconhecimento, acarretado pelas revelações do Guimarães, torna a relação entre Carlos e Maria Eduarda uma relação incestuosa, provocando a catástrofe consumada pela morte do avô; a separação definitiva dos dois amantes; e as reflexões de Carlos e Ega



Acão Secundária
Pedro da Maia conhece Maria Monforte por quem se apaixona violentamente e com quem casa, contra a vontade do pai. De repente, a felicidade de Pedro acaba, quando Maria Monforte foge com Tancredo, um napolitano por quem se enamora, levando consigo a filha Maria Eduarda. Pedro, desesperado, dirige-se para o Ramalhete e, após contar tudo ao pai, suicida-se, deixando o seu filho Carlos a Afonso.

Espaço(físico, psicológico e social)

Espaço Físico
A maior parte da narrativa passasse em Portugal, mais concretamente em Lisboa e arredores.                                               
Em Santa Olávia passasse a infância de Carlos. É também para lá que este foge quando descobre a sua relação incestuosa com a irmã.                                                                                                                                                                            Em Coimbra passam-se os estudos de Carlos e as suas primeiras aventuras amorosas.                                                       
É em Lisboa que se dão os acontecimentos que levam Afonso da Maia ao exílio; é em Lisboa que sucedem os acontecimentos essenciais da vida de Pedro da Maia; e é também lá que decorre a vida de Carlos que justifica o romance - a sua relação incestuosa com a irmã.                                                                              
O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas. Afonso exila-se em Inglaterra para fugir à intolerância Miguelista; Pedro e Maria vivem em Itália e em Paris devido à recusa deste casamento pelo pai de Pedro. Maria Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relação incestuosa com Carlos. O próprio resolve a sua vida falhada com a fixação definitiva em Paris.                       
Deve referir-se como importante espaço exterior Sintra, palco de vários encontros, quer relativos à crónica de costumes, quer à relação amorosa dos protagonistas.
Espaço Social
O espaço social comporta os ambientes (jantares, chás, soirés, bailes, espectáculos), onde atuam as personagens que o narrador julgou melhor representarem a sociedade por ele criticada - as classes dirigentes, a alta aristocracia e a burguesia.
Destacamos o jantar do Hotel Central, os jantares em casa dos Gouvarinho, Santa Olávia, a Toca, as corridas do Hipódromo, as reuniões na redação d' A Tarde, o Sarau Literário no Teatro da Trindade - ambientes fechados de preferência, por razões de elitismo.           
O espaço social cumpre um papel puramente crítico.

Espaço Psicológico
O espaço psicológico é constituído pela consciência das personagens e manifesta-se em momentos de maior densidade dramática. É sobretudo Carlos, que desvenda os labirintos da sua consciência. Ocupando também Ega, um lugar de relevo. Destacamos, como espaço psicológico, o sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria Eduarda; nova evocação dela em Sintra; reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda; visão do Ramalhete e do avô, após o incesto; contemplação de Afonso morto, no jardim.                                                                     
Quanto a Ega, reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda.                                                          

Tempo (do discurso e da Historia)

Tempo do discurso
Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano pela Europa, após a formatura, veio, com o avô, instalar-se definitivamente em Lisboa.

Tempo histórico
Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada.

Narrador
O narrador é heterodiegético, ou seja, não é uma personagem histórica.
Assume geralmente uma atitude de observador

Elementos Simbólicos
O Ramalhete;
A Toca;
Santa Olávia simboliza a vida e a regeneração dos dois varões da família;
Sintra nela se representa a beleza paradisíaca
Lisboa nela esta simbolizada a decadência nacional, onde se destaca a estatua de camões

Coimbra é onde Carlos teve a sua formação académica


Caracterização das personagens da obra






sábado, 25 de dezembro de 2010

A Educação n' Os Maias

     Uma das temáticas centrais do romance de Eça é, inequivocamente, a educação.

     Este facto compreende-se porque a problemática, de acordo com a estética naturalista, é fundamental na caraterização das personagens e porque assume, nas obras do escritor, uma representatividade considerável.

A Educação portuguesa e a Educação inglesa


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Capitulo VI

Carlos visita Ega na sua nova casa, a Vila Balzac, no Largo da Graça, depois da Cruz dos 4 Caminhos. Saem. Encontram Craft. Combinam jantar no Hotel Central, em honra ao Cohen. Chegam os Castro Gomes para se hospedar (p.157). Alencar encontra Carlos da Maia, que tem agora 27 anos. Alencar é contra o Naturalismo e tudo o que lhe cheire a Realismo. Começam a discutir a decadência de Portugal, política e socialmente. Acabam bem o jantar. Ega e Alencar discutem. Reconciliam-se. Saem todos do Hotel Central. Alencar acompanha Carlos até casa. Analepse de uma conversa de Carlos e Ega em que este, bêbado, lhe revelara a verdadeira história da mãe de Carlos. Carlos adormece, pensando na misteriosa senhora do Hotel Central e no Alencar.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Corrida De cavalos

Resumo:
O capítulo X começa com o fim do encontro de Carlos com Gouvarinho e revela que Carlos já se sente farto desta: “E nessa tarde, como não havia ainda outro esconderijo, tinham abrigado os seus amores dentro daquela tipóia de praça. Mas Carlos vinha de lá enervado, amolecido, sentindo já na alma os primeiros bocejos da saciedade. Havia três semanas apenas que aqueles braços perfumados de verbena se tinham atirado ao seu pescoço – e agora, pelo passeio de S.Pedro de Alcântara, sob o ligeiros chuvisco que batia as folhagens da alameda, ele ia pensando como se poderia desembaraçar da sua tenacidade, do seu ardor, do seu peso…”.
Quando, depois, Carlos ia a descer a rua de S.Roque, encontrou o marquês. Durante a conversa, Carlos apercebeu-se que a corrida tinha sido antecipada para o próximo Domingo. Maia ficou contente pois daí a cinco dias iria, finalmente, conhecê-la.
Enquanto Carlos e o marquês vão falando das corridas, Maria Eduarda passa no seu coupé… “Carlos olhou, casualmente; e viu, debruçado à portinhola, um rosto de criança, de uma brancura adorável, sorrindo-lhe, com um belo sorriso que lhe punha duas covinhas na face. Reconheceu-a logo. Era Rosa, era Rosicler: e ela não se contentou em sorrir, com o seu doce olhar azul fugindo todo para ele – deitou a mãozinha de fora, atirou-lhe um grande adeus. No fundo do coupé, forrado de negro, destacava um perfil claro de estátua, um tom ondeado de cabelo loiro. Carlos tirou profundamente o chapéu, tão perturbado, que seus passos hesitaram. “Ela” abaixou a cabeça, de leve;”.
No fim de ver passar o coupé, Carlos e o marquês dirigem-se ao Ramalhete; Maia, pelo caminho, vai traçando um plano para se encontrar com Maria Eduarda. Chegando ao Ramalhete juntam-se todos.
Durante o jantar Carlos vai contar o seu plano para conhecer Castro Gomes a Dâmaso: este levá-los-ia até aos Olivais para lhe mostrar a colecção de Craft e em seguida jantariam no Ramalhete.
Depois do sarau no Ramalhete, chega o dia das corridas. Carlos vai ao hipódromo na esperança de ver Maria Eduarda, mas fica desiludido pois ela não aparece.
É Domingo, um dia quente com o céu azul, no Hipódromo Carlos fala com a sua velha amiga D.Maria da Cunha e conhece Clifford, que era o dono do cavalo que tinha mais expectativas de ganhar e foi por causa dele que as corridas foram antecipadas.
Entretanto, a Gouvarinho diz a Carlos que seu pai faz anos e ela tem de ir ao Norte. Combina então com ele para se encontrarem na estação e seguirem juntos no comboio ate Santarém onde passariam a noite juntos; depois, ela seguiria até ao Porto e ele regressava a Lisboa. Carlos hesita.
Houve algumas complicações durante a prova que causaram a desordem – página 329/330.
Carlos, para animar as corridas, decide apostar e, surpreendentemente, acaba por ganhar muito dinheiro.
Aqui podemos aplicar o provérbio “Sorte no jogo, azar no amor”… Este é o primeiro presságio do capítulo: “- Ah, monsieur – exclamou a vasta ministra da Baviera, furiosa – mefiez-vous… Vous connaissez le proverbe: heureux au jeu…”
Entretanto, Carlos vai falar com Dâmaso. Este conta-lhe que Castro Gomes partiu para o Brasil e que Maria Eduarda está num apartamento no prédio do Cruges.
Em seguida, Carlos arranja a desculpa de querer falar com Cruges para ver Maria Eduarda. Mas, quando chega, ao prédio, felizmente, a criada diz que Cruges não está; Carlos acaba também por não ver Maria Eduarda.
Carlos regressou ao Ramalhete, conversando com Craft dá-se o segundo pressagio…
“- A gente, Craft, nunca sabe se o que lhe sucede é, em definitivo, bom ou mau.
-Ordinariamente é mau.”

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Os Maias – Critica social

Lisboa é o espaço privilegiado do romance, onde decorre praticamente toda a vida de Carlos ao longo da ação. O caracter central de Lisboa deve-se ao facto de esta cidade concentrar, dirigir e simbolizar toda a  vida do país. Lisboa é mais do que um espaço físico, é um espaço social. É neste ambiente monótono, amolecido e de clima rico, que Eça vai fazer a crítica social, em que domina a ironia, corporizada em certos tipos sociais, representantes de ideias, mentalidades, costumes, politicas, conceções do mundo, etc. Vários são os episódios utilizados pelo autor para mostrar a vida da alta sociedade lisboeta. Destacam-se os mais importantes:
- O jantar do Hotel Central
- A Corrida de Cavalos
- O jantar dos Gouvarinhos
- A Imprensa
- A Sarau do Teatro da Trindade
- O Passeio de Carlos e João da Ega

- A Educação

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

OS MAIAS - O Sarau do Teatro da Trindade

  O Sarau destinava-se a ajudar as vítimas das cheias do Ribatejo.

  Revela-nos aspetos caricatos da sociedade lisboeta: o gosto pela verborreia oca; a total falta de sensibilidade estética para apreciar o talento; a lágrima fácil perante o exagero poético romântico; a superficialidade das conversas.

  O primeiro interveniente é Rufino, um orador tido como sublime; a sua retórica vazia, quase barroca, traduz a sensibilidade literária da época; a sua bajulação à família real evidencia a idolatria em relação a quem o pode promover.

  Cruges representa o raro talento verdadeiro, incompreendido e alvo de risos.

  O último interveniente é Alencar, após “um intervalo de dez minutos como no circo”. O poeta declamou “A Democracia”, aliando poesia e política, numa encenação exuberante e sentimentalista, ultrarromântica, que termina, entre fortes aplausos, com propostas sociais utópicas de uma República em que o milionário, sorrindo, abre os braços ao operário.


  É neste episódio, aparentemente desligado por completo da intriga principal, que Ega entra em contacto com o Sr. Guimarães, personagem que se revela fundamental para o final trágico da intriga.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

domingo, 19 de dezembro de 2010

Cesário verde (bibliografia)

José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855  Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais, destacando-se a revista Branco e Negro 1896-1898) e as atividades de comerciante herdadas do pai.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Parnasianismo

O parnasianismo é uma escola literária ou um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo. Um estilo de época que se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na França.
Movimento literário que originou-se na França, representou na poesia o espírito positivista e científico da época, surgindo no século XIX (19) em oposição ao romantismo.

Nasceu com a publicação de uma série de poesias, precedendo de algumas décadas o simbolismo uma vez que os seus autores procuravam recuperar os valores estéticos da antiguidade clássica. O seu nome vem do Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega era consagrada a Apolo e às musas

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Temáticas dominantes na obra de Cesário Verde

Cidade/ campo
 O contraste cidade/campo é um dos temas fundamentais da poesia de Cesário e revela-nos o seu amor ao rústico e natural, que celebra por oposição a um certo repúdio da perversidade e dos valores urbanos a que, no entanto, adere.
è A cidade personifica a ausência de amor e, consequentemente, de vida. Ela surge como uma prisão que desperta no sujeito “um desejo absurdo de sofrer”. É um foco de infecções, de doença, de MORTE. É um símbolo de opressão, de injustiça, de industrialização, e surge, por vezes, como ponto de partida para evocações, divagações
è O campo, por oposição, aparece associado à vitalidade, à alegria do trabalho produtivo e útil, nunca como fonte de devaneio sentimental. Aparece ligado à fertilidade, à saúde, à liberdade, à VIDA. A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, daí surgir o mito de Anteu, uma vez que a terra é força vital para Cesário. O poeta encontra a energia perdida quando volta para o campo, anima-o, revitaliza-o, dá-lhe saúde, tal como Anteu era invencível quando estava em contacto com a mãe-terra.
O campo é, para Cesário, uma realidade concreta, observada tão rigorosamente e descrita tão minuciosamente como a própria cidade o havia sido: um campo em que o trabalho e os trabalhadores são parte integrante, um campo útil onde o poeta se identifica com o povo (Petiz). É no poema Nós que Cesário revela melhor o seu amor ao campo, elogiando-o por oposição à cidade e considerando-o “um salutar refúgio”.
A oposição cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a morte que cria em Cesário uma repulsa à cidade por onde gostava de deambular mas que acaba por aprisioná-lo.

Critica à humilhação dos humildes
  Cesário busca a expressão clara, objetiva e concreta;
-       As suas descrições têm pouco de poético – prosaísmo lírico –, pois procura explorar a notação objetiva e sóbria das graças e dos horrores da vida da cidade ou a profunda vitalidade da paisagem campestre – características de um realista.
-                     A preocupação com:
·        a beleza e a perfeição da sua poesia (a musicalidade, a harmonia, a escolha dos sons...);
·        o vocabulário – a expressividade verbal, a adjetivação abundante, rica e expressiva, a precisão vocabular  (chega mesmo a usar termos técnicos), o colorido da linguagem...;
·        os recursos fónicos – as aliterações, que contribuem para a musicalidade e para a perfeição formal;
·        os processos estilísticos –  abundância de imagens, as metáforas, as sinestesias...;

·        a regularidade métrica, estrófica e rimática (na métrica, preferência pelo verso decassilábico e pelo alexandrino; na organização estrófica, a preferência evidente pela quadra que lhe permitia registar as observações e saltar com facilidade para outros assuntos).

Poema de cesário verde seleção e analise

No dia 23 de janeiro de 1874, foi publicado no Diário da Tarde, de Lisboa, o poema “Manias”, de Cesário Verde:

O mundo é velha cena ensanguentada. 
Coberta de remendos, picaresca; 
A vida é chula farsa assobiada, 
Ou selvagem tragédia romanesca. 

Eu sei um bom rapaz, — hoje uma ossada —, 
Que amava certa dama pedantesca, 
Perversíssima, esquálida e chagada, 
Mas cheia de jactância, quixotesca. 

Aos domingos a déia, já rugosa, 
Concedia-lhe o braço, com preguiça, 
E o dengue, em atitude receosa, 

Na sujeição canina mais submissa, 
Levava na tremente mão nervosa, 
O livro com que a amante ia ouvir missa! 

Neste poema, um soneto petrarquiano, Cesário descreve a tensão entre os valores da mulher da cidade e os valores da mulher do campo (ainda que esta última não seja mencionada explicitamente no poema). Sabemos dessa relação por conhecermos outros poemas do autor português em que exalta os costumes do campo e critica os da cidade, como afirma Helder Macedo: “Ao nível pessoal, a cidade significa a ausência, a impossibilidade ou a perversão do amor, e o campo a sua expressão idílica. 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Biografia e bibliografia de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa (1888 - 1935) foi um poeta e escritor português, nascido em Lisboa. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal. 

Aos seis anos de idade, Fernando Pessoa foi para a África do Sul, onde aprendeu perfeitamente o inglês, e das quatro obras que publicou em vida, três são em inglês. Durante sua vida, Fernando Pessoa trabalhou em vários lugares como correspondente de língua inglesa e francesa. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, e ao mesmo tempo produzia suas obras em verso e prosa. 

Como poeta, era conhecido por suas múltiplas personalidades, os heterónimos, que eram e são até hoje objeto da maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. 

Fernando Pessoa faleceu em Lisboa, com 47 anos anos de idade, vítima de uma cólica hepática causada por um cálculo biliar associado a cirrose hepática, um diagnóstico hoje é dia é contestado por diversos médicos.

Os principais heterônimos de Fernando Pessoa são: 

- Alberto Caeiro, nascido em Lisboa, e era o mais objetivo dos heterônimos. Buscava o objetivismo absoluto, eliminando todos os vestígios da subjetividade. É o poeta que busca "as sensações das coisas tais como são". Opõe-se radicalmente ao intelectualismo, à abstração, à especulação metafísica e ao misticismo. É o menos "culto" dos heterônimos, o que menos conhece a Gramática e a Literatura. 

- Ricardo Reis, nascido no Porto, representa a vertente clássica ou neoclássica da criação de Fernando Pessoa. Sua linguagem é contida, disciplinada. Seus versos são, geralmente, curtos. Apóia-se na mitologia greco-romana; é adepto do estoicismo e do epicurismo (saúde do corpo e da mente, equilíbrio, harmonia) para que se possa aproveitar a vida, porque a morte está à espreita. É um médico que se mudou para o Brasil. 

- Álvaro de Campos, nascido no Porto, é o lado "moderno" de Fernando Pessoa, caracterizado por uma vontade de conquista, por um amor à civilização e ao progresso. Campos era um engenheiro inativo, inadaptado, com consciência crítica.





terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A génese da heteronímia: carta de fernando pessoa a adolfo casais monteiro

Heteronímia (do grego heteros = diferente; + ónoma = nome) designa o fenómeno da utilização de diferentes nomes que correspondem a personalidades diferentes, com biografia e estilo próprios, com uma visão de mundo específica, num processo de fragmentação psicológica. Enquanto o pseudónimo é um nome falso (pseudo = falso + ónoma = nome) que esconde o nome e a personalidade do seu autor, o heterónimo implica uma personalidade particular, com uma biografia própria e uma visão específica do mundo. 
A marca mais distintiva de Fernando Pessoa é a capacidade de «outrar-se», a criação da heteronímia. Este fenómeno resulta, segundo o mesmo afirma, em carta a Adolfo Casais Monteiro, da necessidade de descobrir a sua consciência e personalidade. E vai levá-lo à concepção de figuras "exactamente humanas" que "eram gente". Nessa carta de 1935, diz ele: "hoje já não tenho personalidade: quanto em mim haja de humano eu o dividi entre os autores vários de cuja obra tenho sido o executor. Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha." Trata se, contudo, simplesmente do "temperamento dramático elevado ao máximo"; escrevendo, em vez de dramas em actos e acção, "dramas em alma".
Nesta perspectiva dele mesmo, dir se á que a "pequena humanidade" do poeta é como um palco onde desfilam diversas personagens diferentes. Num dos seus inéditos publicados pelos críticos, diz Pessoa que "o autor destas linhas [...] nunca teve uma só personalidade, nem pensou nunca, nem sentiu, senão dramaticamente, isto é, numa pessoa, a personalidade, suposta, que mais propriamente do que ele próprio pudesse ter esses sentimentos" e, num outro, "quando falo com sinceridade, não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe".
Desde criança, Fernando Pessoa, particularmente após a morte do irmão, mostra-se reservado e solitário, o que o leva à criação de diversos amigos imaginários "exactamente humanos". O primeiro surge aos seis anos, é francês e chama-se Chevalier de Pas; quando entra no liceu Durban High School, em 1899, cria o heterónimo Alexander Search, que escreve poemas em inglês; a partir daí, entre pseudónimos, heterónimos e semi-heterónimos, contam-se, pelo menos, 72 nomes inventados e que constituem muitas outras faces do artista. Mas é entre 1912 e 1914 que se formam no seu espírito os mais conhecidos, a que chamou Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. Afirma que o dia 8 de Março de 1914 é o "dia triunfal" da sua vida, pois surge o "mestre" Alberto Caeiro a escrever os poemas do Guardador de Rebanhos. E, nesse mesmo ano, ganham contornos definidos os discípulos Álvaro de Campos e Ricardo Reis, embora este último nascesse no seu espírito em 1912. Outros vão aparecendo, dos quais merece destaque "Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa", que considera um "semi-heterónimo".
Embora tudo isto possa parecer um jogo ou uma mistificação, temos de considerar que a criação dos heterónimos é contrabalançada por uma inteligência superior que soube muito bem enquadrar Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos nas correntes europeias da época.
Mas, além disso, e independentemente de qualquer explicação, que significará este fenómeno de heteronímia? Fernando Pessoa, numa carta a dois psiquiatras franceses, datada de 10 de Junho de 1919, afirma que, do ponto de vista psiquiátrico, é um histero-neurasténico, cujas características se revelam, por exemplo, na instabilidade de sentimentos e de sensação, na oscilação da emoção e da vontade. Deste modo se poderá talvez compreender os heterónimos como aspectos complementares do mesmo ser e resultados de um tal temperamento. "A dificuldade de adaptação à vida por excesso de visão ou por anemia da vontade, a incapacidade de concentração", é o que significarão tais heterónimos. Enquanto Álvaro de Campos, no dizer de João Mendes, é vítima e porta voz dos seus desesperos interiores, Alberto Caeiro e Ricardo Reis representarão as compensações ideais dos fracassos e da angústia habitual de Álvaro de Campos.
Os heterónimos "são como personagens à procura do autor. São personagens de um drama. Cada um é diferente dos outros e fala e procede tal qual é". São os companheiros psíquicos, como ele considera ao dizer "eu e o meu companheiro de psiquismo Álvaro de Campos".
Sem uma enumeração exaustiva, outras personagens deste ?drama em gente? são, por exemplo António Mora, Raphael Baldaya, Charles James Search (irmão de Alexander), G. Pacheco, A. Barão de Teive, A. Crosse (que concorre a concursos de charadas em jornais ingleses), I.I. Crosse, Thomas Crosse e Diniz da Silva, Vicente Guedes, Robert Annon e David Merrick, Jean Seul de Méluret, Joaquim Moura Costa, Torquato Mendes Fonseca da Cunha Rey, Carlos Otto, Pantaleão, António Seabra, Frederico Reis (primo ou irmão de Ricardo Reis), Botelho e Abílio QuaresmaF. Antunes, Frederick Wyatt e os seus irmãosWalter e Alfred, e, inclusive, uma voz feminina chamada Maria José.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Características da poética de Ricardo Reis



Características temáticas:

  • Paganismo (crença nos deuses e na civilização grega)
  • Fatalismo (passividade, indiferença, ausência de compromisso com o Mundo)
  • Consciência da precariedade da vida (medo da morte
  • Epicurismo (busca da felicidade relativa)
  • Estoicismo (aceitação das leis do destino)
  • Culto do belo, como forma de superar e efemeridade dos bens e a miséria da vida
  • A interiorização das emoções
  • O autodominio e a contenção dos sentimentos
  • O elogio da vida rústicas: a felicidade só é possivel no sossego do campo
  • Classicismo, individualismo, passividade.
 
 Características estilísticas:

  • Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde a uma expressão perfeita
  • Estrofes regulares e versos brancos
  • Recusa frequente à assonância, à rima interior e à aliteração
  • Predominância da subordinação
  • Uso frequente do hipérbato
  • Uso frequente do gerúndio e do imperativo
  • O uso de latinismo
  • Metáforas, eufemismos, comparações, apóstrofes
  • Estilo construído com muito rigor e muito denso
  • Verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada e serena
  • As perífrases que remetem para um contexto religioso e mitológico grego ou latino.